A cultura de que fala Thompson é transmitida oralmente de geração em geração, pois pertence ao domínio do oral: ritos, formas de protesto e padrões de ação coletiva são reproduzidos ao longo do tempo. Além desta difusão vertical, é possível notar uma outra difusão horizontal, que se dá no espaço geográfico, espalhando determinadas práticas.
Outro aspecto que me parece interessante, pois revelador do diálogo de Thompson com a antropologia, diz respeito aos mecanismos que cada comunidade dispõe para reprimir e punir os que se desviassem do padrão aceito coletivamente. Isto pode levar a conclusão de que se trata de uma cultura tradicional, ao que Thompson replica, alegando que as normas desta cultura "não eram as mesmas proclamadas pela Igreja ou pelas autoridades".
Bem, vejamos, isto não invalida o fato de que se trata de uma cultura tradicional e conservadora, que expulsa os desviantes e que se perpetua ao longo do tempo. Isto não se confunde, a meu ver, com o que Thompson considera "cultura oficial". Cultura oficial seria a cultura da Igreja e das autoridades - e isso numa velha chave explicativa, que não se aplica mais aos estudos da cultura. Lembra-me muito a obra, um tanto defasada, de Bakthine, para quem haveria uma cultura popular e uma cultura oficial, ou seja, a cultura do povo e a cultura da Igreja e das autoridades. Ora, o que explica um recorte sociológico desta natureza ?
Relendo Thompson, tive a impressão que ele está muito vinculado ao estudo de Bakthin sobre Rabelais, sobretudo quando ele define a cultura como o lugar do não-racional também.
Além do mais, parece-me um tanto ingênuo afirmar que a cultura plebéia ou costumeira está fora da influência do domínio ideológico dos governantes, sob a alegação de que se trata de um mundo mais independente dos senhores. Diz Thompson: "a hegemonia suprema da gentry pode definir os limites dentro dos quais a cultura plebéia tem liberdade para atuar e crescer; mas como essa hegemonia é laica, e não religiosa ou mágica, pouco pode fazer para determinar o caráter dessa cultura plebéia" (p. 19). Será que o controle da lei é menos influente que o religioso ?
Um aspecto importante é a natureza rebelde da cultura costumeira: ela é reativa, à medida em que se opõe às inovações capitalistas. Ela é rebelde na defesa dos costumes. Portanto, leia-se tradicional. Daí o apego ao paternalismo, em busca da manutenção dos costumes: "quando procura legitimar seus protestos, o povo retorna frequentemente às regras paternalistas de uma sociedade mais autoritária, selecionando as que melhor defendam seus interesses atuais" (p. 19).
sexta-feira, 24 de abril de 2009
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não acho, se tiver errado, que a idéia de tradicional se encaixa em Thompsom. Acredito que quando ele resgata esssa cultura, que é um campo de tensão, já que os costumes podem ou não ser infringidos, as práticas ficam a mercê de escolhas de patrícios e plebeus. Portanto, vejo que a cultura é única para ambos, mas apropriada costumeiramente de maneira diferente de acordo com a mentalidade e o contexto.
ResponderExcluirPaulo Roberto de Almeida
A cultura plebéia luta em nome da tradição: ela se opõe à inovação e elimina os que se desviam de suas normas. Ela é naturalmente conservadora. No ambito da cultura, existem poucas escolhas e mais determinações. A cultura plebéia não se confunde com a cultura patrícia, apesar de ser possível resgatar elementos comuns a ambas.
ResponderExcluirOlá,professora Adriana romeiro!Por favor, gostaria que destacasse os pontos essenciais no livro Costumes em comum,de Thompson.Estou estudando este livro,mas confesso que ele é bastante denso e preciso muito de alguns norteadores.Obrigada!
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