quarta-feira, 15 de abril de 2009

Representação, imaginário e simbólico segundo Jacques Le Goff

Imaginário: é uma dimensão da história que fascina Le Goff. Trata-se de um questão naturalmente fluido, que tende a ser confundido com outros domínios, como o de representação. O imaginário diz respeito à arte, à invenção, à criação, e é diferente da representação, posto que esta é uma tradução mental de uma realidade exterior percebida, configurando como um processo de abstração. A representação de uma catedral é a idéia de catedral. O imaginário faz parte do campo da representação, mas ocupa a parte da tradução nao reprodutora, não simplesmente transposta em imagem no espírito, mas criativa, poética no sentido etimológico. Para evocar uma catedral imaginária, é preciso recorrer à literatura ou à arte, a exemplo da Notre-Dame de Victor Hugo.
No que respeita as relações entre o imaginário e o simbólico, é preciso lembrar que o simbólico remete para um sistema de valores subjacente, histórico ou ideal. Por exemplo, a mulher de olhos fechados na escultura gótica é o emblema da Sinagoga. Estas estátuas são portanto simbólicas.
E quanto ao ideológico ? Quais são suas relações com o imaginário ? Para Le Goff, o ideológico é investido por uma concepção de mundo que tende a impor a representação um sentido que perverte tanto o real material quanto o outro real, o imaginário. A ideologia não é descrição, mas sim imposição de uma imagem. Quando os clérigos medievais destacam nos comportamentos humanos sete pecados capitais, isto não é uma descrição das condutas ruins que eles realizam, mas a construção de um utensílio próprio a combater os vícios em nome da ideologia cristã. Os sistemas ideológicos, os conceitos organizadores da sociedade forjados pelas ortodoxias reinantes não sao sistemas imaginários propriamente ditos. Porém, as fronteiras são fluidas.

Onde encontrar o imaginário ?
O documento informa sobre o imaginário de uma época: uma carta, por exemplo. Uma escritura oficial exprime, mais que uma representação, uma imaginação da cultura, da administração do poder. O imaginário da escrita não é o mesmo da palavra, do monumento, da imagem.

Documentos para uma história do imaginário
- obras literarias e artisticas: produções do imaginário.

Imaginário e imagem
- no imaginário existe a imagem, que é o objeto da iconografia (tipologia dos temas/ aproximação das obras de arte com os textos/ estudo das evoluções temáticas). Trabalhos voltados para o estudo da iconografia, como os de Panofski e Meyer Schapiro, propõem uma análise estrutural e semiótica das imagens, articulando-as com o meio intelectual e cultural. O objetivo da análise iconográfica é portanto ampliar a compreensao do funcionamento da imagem na cultura e na sociedade.

Estudos sobre o Imaginário
A vida do homem está ligada tanto às imagens quanto às realidades mais palpáveis. As imagens que interessam ao historiador são as imagens coletivas, que, pelas vicissitudes da história, se formam, mudam e se transformam. Elas se exprimem por palavras e temas. Elas são legadas pelas tradições, emprestadas de uma civilização a outra, circulam no mundo diacrônico das classes e das sociedades humanas. Por exemplo, a imagem de Jerusalém para os cristãos na época das Cruzadas. Ademais, o imaginário alimenta e faz o homem agir, posto que é fenômeno coletivo, social e histórico. Uma história sem imaginário é uma história mutilada e desencarnada. Todas as realidades, mesmo as mais materiais, tem uma dimensão imaginária, que faz parte da história. Muito frequentemente, a realidade imaginária é mais importante do que qualquer outra. O imaginário não é o domínio do imóvel: ele muda, de acordo com os ritmos da história - e através destas mudanças é possível ler e apreender o funcionamento mais vasto de uma sociedade.
No livro O maravilhoso medieval, Le Goff privilegia o espaço e o tempo, porque estas são categorias fundamentais para se pensar a relação entre a realidade e o imaginário. Investidas de uma carga simbólica densa, elas revelam muito acerca de uma sociedade. Para além destas categorias privilegiadas, há ainda aquilo que Le Goff chama de tema-chave do imaginário,
aquele que galvaniza as atenções de uma época. Na Idade Média, por exemplo, era a figura de Satanás que tinha um forte apelo nas consciências.
Parece-me que a grande empreitada de Le Goff é o estudo dos temas em que se entrelaçam realidade material e pensamento imaginário, problematizando como determinados imaginários mantém uma relação dinâmica e de reciprocidade com as sociedades as quais pertencem. O imaginário é a causa e o efeito das realidades históricas: a invenção do Purgatório, por exemplo, assinalou uma grande mudança na mentalidade do homem medieval, estabelecendo uma nova habilidade mental e intelectual.

2 comentários:

  1. Olá Adriana...estou acompanhando seu blog. Gostaria de saber mais sobre o imaginário na Idade Média. Tenho lido textos complicadísimos, e achei seu texto muito tranquilo, de fácil compreensão. Gostaria de saber mais sobre o céu e o inferno na Idade Média.

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  2. Realmente seu texto foi bem explicado...eu já havia acessado outros textos sobre Historia do Imaginario e lendo esta publicação ficou tudo bem claro na minha mente. Obrigada.

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