quinta-feira, 2 de abril de 2009

Sobre crença e fé na obra de Bloch

Uma das conclusões a que se chega ao ler o livro de Bloch é que uma crença sobrevive independentemente de sua eficácia. Se hoje nós precisamos medir empiricamente esta eficácia, testando-a à luz da experiência, os homens do passado viam as coisas de modo diferente. Afinal, o conceito de veracidade é histórico e variável. A crença no milagre só existiu e sobreviveu tanto tempo porque havia a convicção profunda de que os milagres eram possíveis e faziam parte da ordem do dia. Isto nos ajuda a entender uma das principais premissas da história das mentalidades - e também da cultura - de que a realidade é construída pelo olhar das sociedades. Estudos posteriores ao de Bloch desbravaram este domínio da história, levando ao limite a idéia de que a realidade é uma função da nossa cultura: lembram-se de Colombo descrevendo as ninfas e sereias no Novo Mundo ? Pois é! Colombo via o que acreditava existir. O mesmo acontecia com as populações que acorriam aos reis taumaturgos em busca de um milagre: viam a cura, porque estavam convencidos de que haviam sido curados. A realidade é, para nós, uma projeção das nossas crenças, convicções e valores mais profundos. Que livro brilhante o do Bloch!

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