O pós-modernismo nega toda ordem de valores universais, como verdade, razão, realidade e ciência. Afirma que não há verdade, nem mesmo realidade e que aquilo que a ciência chama de verdade não passa do resquício do impulso imperialista do Ocidente, tentando impor para o resto do mundo suas próprias noções de verdade e realidade. A ciência não passaria, nesta perspectiva, de uma construção social e ideológica, uma vez que todas as crenças são igualmente justificadas pelo consenso da comunidade, que em si mesmo baseia-se no poder social, na retórica e no costume. Não haveria assim verdade objetiva sobre o mundo real, à qual o conhecimento cientificamente justificado poderia aspirar alcançar: toda "verdade" sobre a "realidade" seria literalmente construída com opções entre interpretações, igualmente justificáveis, feitas por um "coletivo mental".
Rejeitam portanto a prova empírica fornecida pelo mundo real, e que poderia ser verificada independentemente de pressupostos teóricos e sociais prévios. Uma vez que os valores contextuais se transformam nos valores constitutivos da ciência, segue-se que diferentes grupos socioculturais sustentariam verdades diferentes sobre o mundo, sendo todas elas igualmente válidas. O pós-modernismo implica uma rejeição categórica do conhecimento totalizante e de valores universalistas, incluindo as concepções ocidentais de racionalidade, igualdade e as concepções sobre a emancipação humana geral. Em vez disso, eles enfatizam a diferença: identidades particulares, tais como sexo, raça, etnia, sexualidade; suas lutas distintas e particulares, os seus conhecimentos particulares.
O ponto de partida dos pós-modernistas é a incapacidade da razão humana de compreender os mecanismos causais do mundo físico. Para os pós-modernistas, a ciência moderna jamais dará as respostas para os mistérios do mundo. Aquilo que o Iluminismo defendeu com tanto esforço, ou seja, a racionalidade científica como meio para a mudança social e o progresso, é jogado na lata do lixo pelo pós-modernismo. Para os pós-modernos, não se trata de negar a realidade externa, com a qual os cientistas interagem em seus experimentos em laborátorios; negam apenas que a realidade externa determine, em última instância, a verdade ou falsidade do conhecimento científico. Ou seja, o mundo real existe, mas ele é independente do que pensamos dele.
Do ponto de vista político, cabe indagar: poderão as teorias idealistas, anti-racionalistas e anti-realistas do conhecimento pós-moderno promover seus objetivos políticos, que presumivelmente incluem plena autonomia do indivíduo e da sociedade, sem preconceito ou injustiça ? Não será mais provável que, ao relativizar todo conhecimento aos discursos culturais e arranjos sociais existentes, eles estejam se privando de qualquer base de onde possam avaliar criticamente as tradições culturais existentes que são hostis a esses ideais políticos ?
Meera Nanda acusa os pós-modernistas de confundir tolerancia e relativismo cultural: segundo ela, uma coisa é aceitar um "relativismo cultural" que respeita a variedade da cultura humana; outra, inteiramente diferente, é adotar um relativismo que transforma esses valores culturais variados no único ou principal padrão de verdade, de modo que a verdade passa a ser simplesmente o que se ajusta a um dado sistema de crenças, ao invés de aquilo que descreve fielmente o mundo que existe independentemente de nossas crenças. De acordo com o relativismo pós-moderno, uma teoria correspondente de verdade, que inevitavelmente faz afirmações universalistas, é violenta e responsável pela intolerância, o colonialismo e mesmo pelo totalitarismo. A única solução que aceitam é reconhecer a influência do contexto e a parcialidade de todo o conhecimento, incluindo o da ciência moderna - o que permite que mil ciências floresçam.
quinta-feira, 18 de junho de 2009
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