quarta-feira, 17 de junho de 2009

A morte do sujeito

Segundo Fredric Jameson, enquanto os modernismos basearam-se na invenção de um estilo pessoal e privado, como se fosse uma impressão digital, ligando-se assim a concepção de um eu e de uma identidade privada únicos, responsáveis pela sua própria visãos singular de mundo - daí o estilo peculiar e inconfundível - no pós-modernismo, o antigo sujeito individual está morto, e fala-se mesmo no caráter ideológico tanto do conceito de indivíduo singular quanto da base teórica do individualismo. Para alguns, nem mesmo existiu um sujeito individual burguês - é uma mistificação filosófica e cultural. O que leva a um dilema estético: estão mortas a experiência e a ideologia do eu singular, uma experiência e uma ideologia que instrumentalizaram a prática estilística do modernismo clássico. Assim, os modelos antigos [Picasso, Proust, T. S. Eliot] já não funcionam, pois ninguém mais tem esse tipo de mundo. Chega-se à crença de que os estilos já foram inventados, não há mais nada para inventar, apenas um número singular de combinações. Daí o pastiche: num mundo em que a inovação estilistica ja não é possivel, só resta imitar os estilos mortos.
Para Rouanet, a morte do sujeito relacionada à modernidade já aparece em Max Weber, em A ética protestante e o espírito do capitalismo (1904): aí ele acusa seus contemporâneos de serem “especialistas sem espírito, sensualistas sem coração; e essa nulidade caiu na armadilha de julgar que atingiu um nivel de desenvolvimento jamais sonhado antes pela espécie humana”. A sociedade moderna é um cárcere, e as pessoas que aí vivem foram moldadas por suas barras; somos seres sem espírito, sem coração, sem identidade sexual ou pessoal. Aqui, o homem moderno como sujeito - como um ser vivente capaz de resposta, julgamento e ação sobre o mundo - desapareceu.
No fim da década de 60, Herbert Marcuse retomaria o problema em O homem unidimensional: de acordo com ele, tanto Marx como Freud são obsoletos, porque as lutas de classes e lutas sociais e os conflitos e contradições psicológicos foram abolidos pelo Estado de “administração total”. As massas não tem ego, nem id, suas almas são carentes de tensão interior e dinamismo; suas idéias, suas necessidades, até seus dramas “nao são deles mesmos”; suas vidas interiores são “inteiramente administradas”, programadas para produzir exatamente aqueles desejos que o sistema social pode satisfazeer. Ou seja: a modernidade é constituída por suas máquinas, das quais os homens modernos não passam de reproduções mecânicas.

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