Gostaria aqui de continuar a discussão iniciada ontem em sala de aula sobre centro e periferia. A tese de Jack P. Greene sobre a negociação entre as elites locais e o poder central não significa necessariamente a pulverização do binômio periferia vs. centro. O fato de haver negociação não elimina o conflito e o caráter impositivo do centro. Toda negociação ocorre dentro de uma margem de possibilidade, dada pelo centro. Vejam um exemplo: aqui em Minas negociou-se as formas de pagamento do quinto. Mas a imposição do quinto estava fora de discussão: devia ser pago e ponto final. Na verdade, a ênfase demasiada na negociação acaba por suprimir não só a dimensão do conflito, mas a atuação do próprio Estado português, que deixa de ser o centro formulador da política colonial. O Grupo do Rio levou a tese de Greene às últimas consequencias, de tal modo que seus adeptos só vêem negociação (e portanto resolução de conflito) em todas as esferas. É preciso lembrar, mais uma vez, que a negociação ocorre dentro de relações de poder, dadas previamente: o que se negocia, como se negocia e até onde se negocia são fixados por aquele que tem mais poder - no caso, o Estado. A dissolução do poder central dilui por completo a própria lógica da colonização, concedendo à periferia um poder que ela jamais teve.
Esta é a polêmica entre o Grupo do Rio e a USP. Enquanto os primeiros rompem com o binômio centro vs. periferia, a USP insiste na centralidade do poder metropolitano.
Eu não acho que a saída seja o modelo do Antigo Sistema Colonial. Havia um Estado português que formulava e implantava políticas para o mundo colonial, baseadas no princípio da exploração econômica. Concordo plenamente com Greene sobre a importância da negociação, mas não posso aceitar, como quer o Grupo do Rio, a diluição das instâncias do centro e da periferia. Como venho dizendo, vivemos uma fase conservadora da historiografia brasileira: jogar no lixo as dimensões políticas inscritas na relação centro e periferia é, mais uma vez, suprimir o conflito, ofuscar as relações de dominação e negar as tensões entre centro e periferia. Em fim, centro e periferia são categorias que, ainda que relativizadas, não podem ser jogadas na lata do lixo.
sexta-feira, 26 de junho de 2009
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