quarta-feira, 17 de junho de 2009

O que é um historiador pós-moderno ?

1.) Relativismo cultural, que postula que "verdade não existe ou é relativa." Isto é: o conhecimento da realidade é impossível ao historiador.
2.) Crença, decorrente do item anterior, de que a História se resume a narrativa,
a qual, por sua vez, se resume ao discurso, o que significa que um texto histórico não é capaz de fornecer a realidade dos fatos, mas apenas realidades discursivas que se separam do real pelo imenso abismo denominado "linguagem". Segundo o ponto de vista relativista, a narrativa histórica "forja" o real sobre o discurso, sendo que todo discurso historiográfico se articula no real perdido (passado), o qual é reintroduzido em um texto fechado, como "relíquia". Assim, a realidade "se exila na linguagem", como dizia outro proponente do relativismo histórico, Michel de Certeau. Isso significa que decifrar a "verdade" que supostamente habita no corpo do documento histórico mediante a determinação acurada do significado das palavras e expressões usadas é uma tarefa fadada ao fracasso. No máximo, o que se consegue eliciar disso é a forma subjetiva com que o autor do documento experimentou o fato relatado ou a forma idiossincrática com que quis interpretá-lo ao descrevê-lo. A análise do documento histórico é a análise da subjetividade da pessoa do autor do documento, e não uma análise objetiva da realidade dos fatos históricos ocorridos.
3.) Origem do relativismo histórico: Nietzsche. A crítica nietzscheana da verdade, e mais especificamente da linguagem, é a base das teses céticas sobre o conhecimento histórico: [para Nietzsche] a pretensão do homem de conhecer a verdade, além de ser efêmera, é também ilusória. Ela tem as suas raízes na regularidade da linguagem, mas, "nas palavras, [segundo Nietzsche] a verdade nunca tem importância e nem mesmo expressão adequada. Caso contrário, com efeito, não existiriam tantas línguas".
Desse modo, a incapacidade das palavras de oferecem uma "expressão adequada" da verdade e da realidade rechaçaria toda a possibilidade de conhecimento. Essa incapacidade, característica intrínseca e inexorável da linguagem, destituiria a razão de ser de qualquer tentativa de expressar a realidade com palavras: "[Para Nietzsche existe um] abismo que separa as palavras e coisas: [por isso] a linguagem não pode dar uma imagem adequada da realidade" (2002, p. 28),
4.) A crise da causalidade. De acordo com Hume, as relações de causa-efeito possuem uma natureza puramente subjetiva, sendo que o fundamento da mesma se encontra no sentimento de crença, algo muito diferente dos processos intelectuais da inferência lógica. Segundo Hume, "a causalidade não é mais do que uma crença baseada na ação do hábito sobre a imaginação". Mal sabia Hume, ao adentrar ainda mais no terreno filosófico das idéias, que uma possível explicação para tal fenômeno estaria nas relações existentes entre linguagem e psicologia humana, mais especificadamente nos modelos de implicação e pressuposição lingüística, sendo que a palavra "porque" se caracteriza linguisticamente como um conector de implicação causal. Nesse contexto, palavras como "porque", "quando", "e", "enquanto", entre outras, podem ser caracterizadas como recursos que a humanidade criou para agilizar a comunicação e, dentro desse contexto como parte daquilo que Hume considerou como "frutos da imaginação humana". Tais palavras não possuem objeto análogo algum com nada que exista no mundo real. No entanto, "passam a ilusão" de que os objetos dos quais se referem estão relacionados um ao outro. Trazendo esse raciocínio para o campo histórico, os relativistas apregoam que a narrativa histórica "forja" o real sobre o discurso, sendo que todo discurso historiográfico se articula no real perdido (passado), o qual é reintroduzido em um texto fechado, como "relíquia". Assim, a realidade "se exila na linguagem" (CERTEAU, 1982, p. 51).
5.) História como ficção e nada mais que isso. Tendência a estetizar a história e
de separá-la de suas bases anteriormente aceitas de verdade e realidade (Hayden White). Estilo literário é mais importante que a verdade (jamais alcançada pelo historiador).
6.) Morte do humanismo: ao predizer, como Foucault desejosamente vaticinou, o fim
do homem, rejeita o humanismo como uma relíquia datada ou como uma
ilusão da ideologia burguesa; a ilusão de sujeitos criando sua própria história
por meio de suas atividades livres, o que é compreendido como um
disfarce para a opressão das mulheres, das classes trabalhadoras, dos nãobrancos,
dos desviantes sexuais e dos nativos colonizados pela sociedade
burguesa.
7.) Renúncia à tarefa da explicação e ao princípio da causalidade.
8.) Tendencia excessiva à especialização, que leva à morte de uma história teórica, ao mesmo tempo que conduz à pulverização da nossa compreensão do passado. Trata-se de uma história fragmentada.
9.) Tendência a relegar a realidade a pano de fundo, privilegiando em seu lugar os discursos proferidos sobre ela. " De outra forma, sob o olhar pós-modernista, as evidências não apontam para o passado, mas sim para interpretações do passado".
10.) Fim das grandes narrativas: se no passado, os historiadores concebiam a própria obra como um meio e não como um fim, e escolhiam narrativas ou formas literárias que se ajustavam à concepção que tinham da história, hoje, já não há nenhuma narrativa - ou fiosofia da história - capaz de lhe dar um sentido e unidade.

Fontes:
Indiciarismo - o triunfo da historiografia ginzburgiana sobre o relativismo histórico do discurso pós-modernista, por Francisco Chagas Vieira Lima Júnior. In http://www.webartigos.com/articles/14352/1/indiciarismo---o-triunfo-da-historiografia-ginzburgiana-sobre-o-relativismo-historico-do-discurso-pos-modernista/pagina1.html.

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