Chartier rechaça a idéia de que o popular seria o lugar da passividade, da dependência e da alienação, como mero receptáculo da cultura erudita. Posiciona-se contrário aos que pensam o erudito como o pólo da invenção e da criação intelectual. Para ele, o pressuposto deste tipo de análise é a idéia equivocada de que o texto contém um único significado, sendo portanto assimilado pela cultura popular.
Em lugar destas categorias, ele prefere pensar no processo de consumo cultural, que, por meio da apropriação, permite ao leitor construir representações e sentidos que não estão previstos no texto. Isso o leva a afirmar que o sentido da obra deve ser recuperado na multiplicidade de interpretações que ela suscita, dentre as quais a do autor é tão-somente mais uma. Ou seja, o texto não é o que é escrito, mas o que é lido.
Em suma, Chartier opõe-se a toda tentativa de estabelecer um nexo entre nível social e nível cultural (popular ou erudito), com base em categorias sociológicas. Para ele, o que define erudito e popular são as práticas. Quanto à cultura popular, torna-se assim impossível identificá-la a partir de textos (artefatos culturais) consumidos por ela. Na verdade, filiando-se ao princípio de circularidade, Chartier mostra que a oposição entre popular e erudito não tem mais sentido, em razão dos empréstimos e intercâmbios. O que interessa é o estudo das práticas, porque elas permitem a apropriação diferente dos materiais culturais.
quinta-feira, 14 de maio de 2009
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