quarta-feira, 13 de maio de 2009

A representação do mundo, segundo Chartier

Vou tentar sintetizar aqui os princípios que regem a história cultural proposta por Chartier.
Pressuposto: existência de categorias que organizam e constróem a representação do real como uma prática social.
Percepção: a percepção do real não é um processo objetivo e transparente, mas, ao contrário, é determinado por categorias partilhadas por determinado grupo social, as quais permitem entender, classificar e atuar sobre o real. Tais categorias configuram uma instituição social, na medida em que são dados ligados a grupos sociais, os quais buscam atender a interesses específicos. O resultado é que a representação do real construída pelos diferentes grupos sociais tende a justificar e a legitimar um determinado lugar social e ao mesmo a própria representação aí em jogo. Toda representação social aspira à hegemonia: ela busca se impor aos demais grupos sociais, submetendo a estes últimos os seus valores e conceitos. É a chamada dominação simbólica.
Para Chartier, a representação do mundo está ligada à posição social dos indivíduos, sendo portanto histórica, posto que construídas ao longo do tempo. Ademais, a representação funciona na prática como uma estratégia de classe, que media as relações entre ela e as demais classes sociais. O resultado é que temos, num mesmo período, uma verdadeira arena de representações sociais: cada classe elabora o real a seu modo.
A representação é inseparável da prática: a prática é uma ação no mundo que faz reconhecer o lugar social do indivíduo. Por exemplo, a prática de leitura oral e pública é uma prática relacionada com as representações sobre o mundo e que pertence a um determinado grupo social. No limite, pode-se dizer que a representação, ao articular-se às práticas, implicam uma identidade social. E não existe representação dissociada da prática: é o mundo da representação que gera as práticas sociais, objetivando-se em instituições, que tendem a perpetuar a existência dos grupos sociais.
Não se pode esquecer a dimensão histórica destes processos, posto que as significações são históricas.
Apropriação: é a forma como os individuos dão sentido ao que vêem e lêem. Trata-se da consltrução de sentido e interpretação. A apropriação é, por definição, histórica. No campo da leitura, os fatores que determinam a apropriação são: as competências do leitor, derivadas por sua vez das práticas de leitura que ele possui; os dispositivos discursivos e formais (inclusive materiais) ; etc. A apropriação tem suas determinações sociais, institucionais e culturais: trocando em miúdos, é preciso estar atento às condições que determinam a construção do sentido, o que obriga o historiador a recuperar o leitor no interior do contexto histórico em que ele está inserido.

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