quarta-feira, 6 de maio de 2009

Verbete Micro-história, da Wikipedia

A micro-história é um género historiográfico surgido com a publicação, na Itália, da colecção "Microstorie", sob a direcção de Carlo Ginzburg e Giovanni Levi, pela editora Einaudi, entre 1981 e 1988. Vem sendo praticada por historiadores italianos, franceses, ingleses e estadunidenses, com ênfase no papel desempenhado pelos primeiros, na importância da revista "Quaderni Storici" e no sucesso da referida coleção "Microstorie".
A sua proposição de análise histórica defende uma delimitação temática extremamente específica por parte do historiador, inclusive em termos de espacialidade e de temporalidade.
Numa escala de observação reduzida, a análise desenvolve-se a partir de uma exploração exaustiva das fontes, envolvendo a descrição etnográfica e tendo preocupação com uma narrativa literária. Contempla temáticas ligadas ao cotidiano de comunidades específicas — geográfica ou sociologicamente —, às situações-limite e às biografias ligadas à reconstituição de microcontextos ou dedicadas a personagens extremos, geralmente figuras anônimas, que passariam despercebidas na multidão.
Surgida a partir dos debates relacionados com os rumos que a chamada Escola dos Annales deveria tomar, esta nova corrente historiográfica foi mal compreendida, ora tomada como história cultural, ora confundida com a história das mentalidades e com a história do cotidiano. Segundo o historiador brasileiro Ronaldo Vainfas, também foi percebida como a expressão típica de uma história descritiva, de viés marcadamente antropológico, que renunciou ao estatuto científico da disciplina e invadiu o território da literatura, rompendo de vez as fronteiras da narrativa histórica com o ficcional.
Giovanni Levi chama a atenção de que tais análises estão equivocadas, pois apesar de produzirem resultados interessantes, o recorte em micro-história deve ser temático e, mesmo assim, relacionado com um assunto mais amplo, O autor refere que a micro-história deveria servir como um "zoom" em uma fotografia. O pesquisador observa um pequeno espaço bastante ampliado, mas, ao mesmo tempo, tendo em conta o restante da paisagem, apesar de não estar ampliada.
A corrente tem sido duramente criticada, acusada de constituir-se em uma história menor, principalmente pelos defensores dos modelos macrossociais de análise. Um dos fatores da antipatia de seus críticos deveu-se ao fato de que boa parte dos micro-historiadores serem marxistas, e após uma crise de identidade gerada quando da divulgação dos crimes cometidos por Stálin na antiga URSS (Stéphane Courtois, O livro negro do comunismo, 1997). Enquanto que alguns historiadores optaram por fazer uma abordagem pós-moderna, outros, como Eric Hobsbawm, Perry Anderson e Edward Palmer Thompson, optaram por romper com a ideologia propagada no período e construir as suas próprias interpretações do pensamento marxista.

Autores
Entre os autores que se dedicaram à produção da micro-história citam-se:
Alain Corbin
Alfred F. Young
Carlo Ginzburg (O Queijo e os Vermes) (1976)
Clifford Geertz
Craig Harline
David Sabean
Emmanuel Le Roy Ladurie
Eduardo Grendi
Giovannni Levi (A herança imaterial: trajetória de um exorcista no Piemonte do século XVII)
Jacques Revel
Jonathan D. Spence
Judith Brown (Atos impuros)
Luis Mott
Mark Kurlansky
Natalie Zemon Davis (O retorno de Martin Guerre)
Osvaldo Raggio
Ronald Hutton
Sigurður Gylfi Magnússon
Stella Tillyard
Theo van Deursen
Wolfgang Behringer

Bibliografia
LEVI, Giovanni. Sobre a micro-história. in: BURKE, Peter. A escrita da história: novas perspectivas. São Paulo: Editora da UNESP, 1992. p. 133-161.
LEVI, Giovanni. A herança imaterial: trajetória de um exorcista no Piemonte do século XVII. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2000.
VAINFAS, Ronaldo. Os protagonistas anônimos da História: micro-história. Rio de Janeiro: Campus, 2002. 115p.

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